Dentro de você, existia um outro você.
Que se perdeu algum dia.
Talvez na data do seu primeiro compromisso.
Ou quando você teve medo.
Ou ele foi se perdendo enquanto você crescia.
Acontece que este outro você, não teria tantas obrigações, nem tantos prazos, nem a pressa com que você come.
Ele teria dito não quando você disse sim.
Mesmo assim ele ainda é você.
E vive em algum lugar aí dentro.
Calado, perdido.
Mas se você chamar, ele vem.
Ah! Que bom seria se todo mundo pudesse ver o futuro, com certeza ninguém iria quere sair da infância.
Acho que até hoje eu continuo lá.
Olhando no espelho fiquei me procurando, fui no endereço certo, mas a moradora não era mais a mesma.
Chamei, chamei, bati palma... ninguém atendeu.
Fiquei lá horas esperando. Lembrei dos momentos que passamos juntas, dos medos, das alegrias, do cachorrinho chamado Bidú, dos planos feitos para quando a idade adulta chegasse.
O dia em que vimos o mar pela primeira vez, da boneca que a mamãe comprou com tanto sacrifício...
É, esperei você chegar. Quem sabe está lá dentro e não quer atender.
Bem, a nova moradora me disse que ela mudou-se, as vezes até aparece, mas logo vai embora, tem medo do julgamento dos outros dizendo: - quando você irá cresce?
Conversando com a nova moradora, percebi traços marcantes seus, mas que estão escondidos pelo tempo. Ela também é emotiva e ansiosa assim como você. Adora crianças, artesanato, palhaçadas e chora até com o Hino Nacional. Bem, não quis me despedir, agradeci pela atenção e fui embora pensando naquela casa que abrigou você um dia.
Pois é, aquela casa chamada corpo nos abriga a alma e dentro dessa casa pode morar várias almas, hoje encontrei tua alma adulta naquela casa, mas fui lá a procura da tua alma de criança.
