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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Dia do Meu Pai





Está chegando o Dia dos Pais e eu só na saudade do meu pai. Fico lembrando de quando era criança, vivemos tantas coisas juntos que é só fechar os meus olhos eu volto no tempo e consigo até sentir o cheiro daquele momento.



Tenho tantas histórias engraçadas, pois assim como eu, meu pai era muito engraçado. Autor de várias músicas que faziam o povo chorar e molhar as calças de tanto rir! Meu pai dizia que que tinha uma tia que quando comprava uma garrafa de refrigerante, conseguia fazer uma multiplicação, pois eram tantos meninos em casa, que a tia fazia o milagre da multiplicação. ela colocava água na bebida e conseguia que um litro fossem 2 litros.

Quando a gente era criança e ficava chorando, meu pai dizia: Tá chorando por que menina? Para de chorar senão você vai apanhar pra comer merda e depois vai apanhar pra saber que perda não se come.

Então a gente parava de chorar e caía na risada.

Também tinha aquele dia que ele dizia: Domingo vou levar vocês na sorveteria para ver os meninos tomarem sorvete. Mas é só pra ver! rsrsrsrs

"Meu pai era engraçado! Tanto quanto Charles Chaplin, tanto quanto Didi Mocó Colesterol Novalgina Mufumbu.

Certa noite na rua de casa, meu pai avistou seu colega de boteco o "Bigode". Bigode descia a ladeira tombando de bêbado, vestido de uma calça de tergal branca e um terno bege de sujeira, ele vinha cantando alto pelo caminho e já era madrugada, mas seu Bigode vinha como um boêmio todo cantante...foi quando o Bigode cantou: " Noite allllta, Céu risoooonho... e meu pai que estava escondido na sacada de casa gritou: "Vai pra casa senvergooonho". Seu Bigode então ficou a procura de quem teria sido o sujeito que disse isso pra ele. Meu pai logo ficou escondido observando seu Bigode entrar em casa. Parecia coisa de criança!

Como diz meu sobrinho: "Nas vezes" meu pai era legal. Nas vezes era bravo! Ele não precisava nem dar palmada, apenas um olhar e logo eu fazia pi pi pi pi igual o Chaves, começava chorar. Isso chamava-se respeito. Respeito que hoje ninguém tem por ninguém. Mas meu pai tinha o nosso respeito.

Certa vez eu e meu irmão, fomos com meu pai na casa de um amigo dele, o Sr. Cecílio que era casado com a Dona Rosa. Eles deixaram eu e meu irmão com a Dona Rosa e foram resolver coisas do caminhão. A Dona Rosa não tinha filhos e por isso gostava muito de ficar conversando com a gente. Na cozinha da Dona Rosa, eu avistei pendurado um monte de linguiça que parecia salame. hum SALAME!, dá até água na boca, eu só havia provado salame uma única vez na casa do meu vô e nem sabia o nome da iguaria, mas nunca esqueci do sabor. Então eu disse pra Dona Rosa: - Dona Rosa, eu quero um pedaço daquilo. / E ela então perguntou: - Ah Claudinha! você gosta de chouriço? Não sabia que você gostava de chouriço./ Eu então falei bem baixinho no ouvido do meu irmão: "CHOURIÇO"? ela tá dizendo que é chouriço só pra não dar pra gente.

Quando era criança e os adultos não queriam que a gente soubesse de alguma ,coisa falavam assim: A gente perguntava: O que é isso? É chouriço. Alguns até completavam: Pra comer no teu serviço!

Então eu pensei que a dona Rosa não queria dar um pedacinho do tal salame e então disse que era chouriço, pois chouriço era tudo que não era da nossa conta ou não era do interesse. ( Você sabe o que é caviar? Nunca vi, nem comi eu só ouço falar).Pois bem, eu ainda disse que queria um pedaço bem grande daquele chouriço: Dona Rosa, então eu quero chouriço e um pedaço bem grande. e ela disse: então tá bem, vou partir. Quando eu mordi o chouriço com tanta vontade, saiu até água dos meus olhos! Tinha um gosto horrível, deu vontade de vomitar. tentei dar para o meu irmão comer e ele disse bem feito, coma tudo sozinha seu olho grande! E eu fiquei ali, olhando de um lado para o outro a procura de um lixinho, mas o lixo até se escondeu de mim e eu disse: Dona rosa, eu tô cheia de comer chouriço, não quero mais não. Ela então caiu na risada e quando meu pai chegou com o Sr. Cecílio ela contou a história. Meu pai sorriu pra ela e me olhou bem sério sem dizer nada pra mim. Disse apenas pra Dona Rosa que criança é terrível mesmo e se desculpou pela minha atitude. Quando subi no caminhão, já vi que a cinta ía correr solta, mas meu pai apontou o dedo indicador na frente dos lábios como sinal de silêncio e disse: CALADA! quando chegar em casa conversamos. No caminho meu pai até esqueceu. Mas eu não. O gosto do chouriço ficou amargando na minha garganta. Foi pior que uma chibatada.Eu era uma comilância mesmo. Minha mãe dizia que eu era um bojãozinho saltitante.

É pai, a vida do seu lado foi muito muito legal! Morremos de rir, morremos de chorar, brincamos sem precisar de brinquedo algum, comemos o melhor sanduíche de pão com manteiga e açúcar... e "É por essas e outras, que a minha saudade faz lembrar, de tudo outra vez" " Pra você pai fica a canção que diz: Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi".

Meu pai partiu em dezembro de 2008 vítima das consequências do alcoolismo. Quanta risadas a mais daríamos juntos? Quantas histórias do arco da velha ele ainda iria me contar? Mas enfim...álcool não é droga, vende na padaria, no supermercado, na porta do colégio. Alcoolismo não é doença! Doença é quando a pessoa que rouba os cofres públicos é denunciado e logo pede exoneração do cargo alegando problemas psiquiátricos e de saúde. Lembro uma vez que tive que me humilhar para um psicóloga recém formada, para que ela mantivesse meu pai em tratamento na clínica ou ele poderia morrer na rua. Ela com um olhar sem dó nem piedade nos ignorou , levantou-se e saiu dizendo que ali não era hotel, que procuramos tratamento tarde demais, que a culpa era nossa e sumiu pelo corredor da clínica.

Com certeza essa doutora nunca passou pelo sofrimento que passa o familiar do alcoólatra. Com certeza essa doutora não serve para lidar com o próximo. E com certeza essa doutora não é doutora. Doutora é patamar, doutora tem sabedoria, doutora tem dignidade, doutora é diploma oferecido pelo dom de Deus! Ou talvez essa doutora fez isso porque não tinha pai. Mas eu tinha pai e queria salvá-lo desse sofrimento, pois ele apesar de alcoólatra era meu pai, o escolhido por Deus para ser responsável por mim. Mas naquele momento eu era responsável por ele e teria que fazer o melhor, pois ele sempre quis o melhor pra mim. e o melhor pra mim era salvar meu pai.

Meu pai foi vítima, eu fui vítima, somos vítimas.

Pai Feliz Dias onde quer que esteja, estais vivo dentro de mim.

"Concede-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir uma das outras".



A Oração da Serenidade foi escrita pelo teólogo protestante Reinhold Niebuhr que viveu de 1892 até 1971 e trabalhava no Union Theological Seminary, nos Estados Unidos da América.
É utilizada por grupos de ajuda mútua, tais como Alcoólicos Anônimos e Neuróticos Anônimos, representando uma síntese dos esforços que devemos desenvolver para vencermos a nós próprios e aprendermos a exercer nossa vontade.


Bença pai...Deus te abençoe filha.